Um dos focos principais do Pilates é o treino do CORE (CORE Stability, POWERHOUSE), além de um equilíbrio neuromuscular o que hoje possui uma vasta literatura científica de seus benefícios. Mas como o CORE age, como ele pode nos ajudar, quais as vantagens de trabalhar o CORE? E o que tentarei responder neste artigo, assim como se o fortalecimento do mesmo e uma reaprendizagem neuromotora nos previne de novas lesões.
O (core) bem treinado é essencial para um ótimo desempenho e prevenção de lesões (1). Os músculos do Core diferente dos músculos dos membros muitas vezes co-cotraem em sinergia ocasionando um “enrijecimento”da coluna vertebral- exemplos desse mecanismo são fornecidos em uma variedade de movimentos esportivos (2,3,5,6,7,8,9,10,11,12). Um Core forte permite que as forças irradiem de uma maneira eficiente para regiões periféricas e mais distantes do corpo. (13).
Boa técnica neuro-motora na maioria dos esportes e tarefas de vida diárias exigem que a energia gerada nos quadris sejam transmitidas através de um CORE “endurecido” (14). Empurrar, puxar, levantar, carregar, e esforços de torção são reforçadas com esta técnica básica de geração de energia mas não são quando as curvas da coluna estão comprometidas e causam o que é muitas vezes referido como ”vazamentos de energia”. O uso da coluna neutra é outra forma largamente difundida no mundo do Pilates.
Muitos pacientes com problemas na coluna possuem dores que têm sido exacerbadas por programas de treinamento pobres, porque o mecanismo de lesão foi inconscientemente incorporado. O primeiro passo para qualquer progressão exercício é remover a causa da dor ou da dor em potencial, ou seja, a perturbação do movimento e dos padrões motores errados que quase sempre ocasionam recindivas. Em conclusão a melhora no padrão de ativação muscular e coordenação previnem novas lesões (14).
Nenhum profissional pode ter êxito sem remover as falhas movimento que são a causa de problemas nas articulações em clientes durante todo o dia. A estabilidade dinâmica do corpo, ou de qualquer articulação específica como o joelho, é contingente do controle neuromuscular que contribui para o deslocamento de todos os segmentos corporais durante movimento (16).
A estabilidade do CORE está relacionada com a capacidade do corpo em controlar o mesmo em resposta a perturbações internas e externas, incluindo as forças geradas em segmentos distais do corpo, bem como de perturbações esperadas ou inesperadas. Estabilidade do CORE, como é geralmente definida na literatura medica esportiva, é uma base de controle dinâmica do tronco que permite a produção, transferência e controle da força e movimento para segmentos distais da cadeia cinética (15). Uma definição mais precisa para a estabilidade do CORE seria a capacidade do corpo em manter ou retomar para uma posição de equilíbrio após sofrer uma perturbação. Déficits neuromuscular no controle do CORE pode levar a um descontrolado deslocamento do tronco durante o movimento atlético, o que por sua vez pode colocar a extremidade inferior em uma posição em valgo, e aumentar movimento de abdução e torque do joelho, e resultar em uma alta tensão alta no joelho e lesionar o LCA (16,17,40).
A atividade muscular do CORE precede a contração muscular dos membros nos movimentos dos mesmos e na sequência temporal de muitas tarefas esportivas(18,19). Hodges e Richadson demonstraram que a atividade dos músculos do tronco ocorre antes da atividade muscular das extremidades. Eles concluíram que o sistema nervoso central cria uma base estável para os movimentos dos membros inferiores através co-contraction do transverso do abdome e músculos multífidos (18). Cholewicki e Van Vliet(20) informaram que todos os músculos do tronco, incluindo abdominal bem como músculos da coluna, contribuem para a estabilidade do CORE. O controle neuromuscular deficiente do CORE na execução de movimentos atléticos pode predispor os atletas a lesões lombares bem como lesões da extremidade inferior. A resposta reflexa retardada dos músculos do CORE aumenta o risco de lesões lombares em atletas e parece ser um fator de risco pré-existentes (21). Da mesma forma, a fadiga muscular abdominal pode contribuir como fator de lesões nos músculos isquiotibiais (23). Há uma clara relação entre a atividade muscular do tronco e o movimento nos membros inferiores. A evidência atual sugere que uma estabilidade do CORE diminuída pode predispor a lesões e que o treinamento apropriado pode reduzir as lesões(42).
O exame retrospectivo de pacientes com entorse de tornozelo mostrou um atraso no início da ativação muscular dos músculos glúteos quando comparados indíviduos controle sem injúrias (23,24). Esse atraso significa uma falta de coordenação neuromotora onde um grupo muscular pode estar inibido ou tenso, no Pilates buscamos exatamente trabalhar o equilíbrio muscular reativando os músculos a contraírem de forma eficiente e no tempo correto para cada movimento. Em um recente estudo prospectivo de mais de 900 atletas, os atletas do sexo feminino que posteriormente sofreram lesões no tornozelo demonstraram uma oscilação do tronco significativamente maior do que aqueles atletas que não sofreram lesões (25).
O trabalho do Pilates além de fortalecer o CORE também é usado para buscar adaptações fisiológicas para aumentar a coordenação neuromuscular, a integridade dos ossos e articulações, a capacidade metabólica, os mecanismos de pares de força-estabilidade articular, melhorar essas áreas também se correlacionam com melhoras na performance física (32,33,34) e vulnerabilidade nessas áreas pode predispor atletas a lesões (34,35,36,37,44). Quando adotamos o Pilates como medida de reabilitação (fisioterapia) ou para condicionamento um dos nossos objetivos é conseguir equilíbrio estático e dinâmico e o controle neuromuscular, se os mesmos não forem restabelecidos após uma lesão, o paciente estará suscetível a lesão recorrente e seu desempenho pode diminuir (38).Intervenção adequada pode resultar em taxas menores de lesões na coluna e nos membros inferiores (42).
Os mecanorreceptores dentro e ao redor das articulações oferecem informação sobre alteração da posição, movimentação e sobrecarga articular no SNC, o qual estimula os músculos ao seu redor para fazê-la funcionar (39). Se um hiato de tempo existir na reação neuromuscular, uma lesão pode ocorrer. Quanto menor o hiato de tempo, menor o estresse para ligamentos e outras estruturas das partes moles ao redor das articulações. Portanto, o fundamento do controle neuromuscular é facilitar a integração das sensações periféricas em relação a posição articular e então, processar essa informação em uma resposta motora eferente efetiva (38,41). Um dos principais objetivos no programa do Pilates na reabilitação ou na pós reabilitação para o controle neuromuscular é desenvolver ou restabelecer as características aferentes e eferentes ao redor da articulação que são essenciais para a estabilização dinâmica e recindivas de lesões (43,44).
Parece um tanto temerário uma pessoa afirmar que o método não previne lesões, diante de tudo exposto. Posso concordar que existem vários tipos de profissionais e que alguns podem trabalhar de uma forma que não abrace tudo que o método oferece, oferecendo metade do que ele pode aos seus pacientes, mas colocar o método nessa equação é ser um pouco displicente ou ter tomado pouco contato com tudo que podemos fazer. Também concordo que uma reaprendizagem neuromotora não se consegue instantaneamente é preciso tempo, para alguns isso acontece mais rápido.
Existe sim hoje uma discussão quanto as dicas para melhorar a reaprendizagem neuromotora e a forma de se trabalhar o CORE ou POWERHOUSE diante das novas comprovações científicas, mas estas não passam perto da afirmação que o método não pode ajudar a prevenir lesões (11) . Este novo conceito de ativar o CORE eu estarei abordando em tópicos posteriores.
As pesquisas caminham num sentindo oposto a afirmação, hoje investiga-se as lesões que são evitadas por termos um CORE forte (40,41,42,44) Sendo assim, o Pilates bem como outros métodos que trabalham o fortalecimento dos músculos do CORE, o equilíbrio muscular e a coordenação neuromuscular previnem recindivas e novas lesões. Não quero dizer com isso que um praticante desses métodos nunca se lesionaram e que ele é a poção mágica para tudo. Existem também aqueles alunos que não seguem as recomendações biomecânicas ensinadas por nós, e em outras atividades esportivas e mesmo de vida colocam o corpo em desvantagem biomecânica e lesionam, mas sempre que isso acontece o retorno é mais consciente com nossos ensinamentos e os benefícios aproveitados.
Vamos fazer uma analogia já que nosso corpo funciona principalmente em termos de movimento com a mecânica. Pense em dois parafusos igualmente novos e capazes de suportarem o mesmo peso, estes prendem a roda de uma bicicleta. Agora imaginem se um deles é fixado de uma forma errada, torta, e o outro de uma forma correta alinhada. cada uma prende uma roda de uma bicicleta e ambas são idênticas: mesmo tempo de uso e mesmo peso. Essas duas bicicletas ao passarem por um buraco na mesma velocidade, e suportando a mesma pessoa e o mesmo peso, adivinha qual suportará mais o baque, a fixada torta ou a alinhada, assim é nosso corpo, nosso alinhamento muscular e ósseo.
Alvaro Alaor
Alvaro Alaor Pilates, SHIS QI 13 Bloco E, salas 13/14, Lago Sul, Brasília. Fone 9385- 3838
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